Arte, grande ciência que possui tantas vertentes, mas apenas uma convergência, a expressão humana. Uma forma de vida, um estilo, uma necessidade? É o Estreito de Bering [1] que possibilita nossas emoções, pensamentos, sentimentos atravessarem o caminho intracorpóreo, em direção ao exterior, “colonizando” nossas Américas de oportunidades e personificando a própria expressividade. Ainda mais do que tudo mencionado anteriormente, a arte passa a ser uma forma de comunicação.
Comunicação que pode ser tanto verbalizada em textos literários, letras de canções, passando progressivamente para o campo visual através de poemas concretistas que utilizam a composição gráfica das palavras e orações para dinamizar uma arte verbalizada, até chegar à arte, comunicação, expressão não verbal, como pinturas, esculturas, trabalhos gráficos (esta progressão não é de caráter temporal, apenas mostra determinados campos e manifestações da arte, do verbal ao não verbal). Ainda podemos ter todos os elementos juntos, em um áudio-visual, um filme. Que inicia com a verbalização de seu roteiro, escrito, implantado no campo visual, com encenações, cenários, efeitos especiais, atingindo um ápice com a implementação de músicas, vozes, trilhas sonoras.
Toda esta magia do prospecto que diz respeito à aproximação entre arte e comunicação é apresentada e interpretada no livro Porque as comunicações e as artes estão convergindo?, de Lucia Santaella.
A autora faz uma análise do comportamento artístico ao longo de vários períodos, comparando-os e assim analisando as mudanças progressivas no que diz respeito à arte, buscando concretizar uma justificativa para uma afirmação que ela faz no questionamento apresentado no título da obra, que é o próprio tema central de seu texto. As artes e as comunicações estão convergindo, isso se torna um fato. A questão agora é executar a análise, tanto de forma abrangente, como de especificidades de épocas e processos artísticos, e assim conseguir encontrar o motivo para a arte e as comunicações estarem tomando esse curso de convergência.
Santaella dá início à sua viagem no tempo pelo Renascimento. Época esta de um novo ápice artístico, de representação e manifestação, que não era mais visto após o classicismo. Renascimento, como o próprio nome diz é um ressurgimento artístico, que não conseguíamos encontrar em seu período anterior, a Idade Média, que chegou inclusive a ser considerada e marcada como “idade das trevas”, tanto de caráter social, como cultural. Após o fim desse conturbado período de obscuridade artística, a arte ressurge, adotando as características clássicas. Época essa da existência da pura arte, da “aura” artística. Termo esse defendido por Walter Benjamin em seu ensaio “A Obra de Arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Com a idéia de “aura artística”, Walter Benjamin refere-se à arte única, pura, seguindo determinados parâmetros de enquadramento, características peculiares necessárias para que a arte tenha sua “aura”. Características como arte com intuito de transcendência, sem fins lucrativos (sem as influências da Indústria Cultural), o hic et nunc, ou seja, o aqui e agora, a obra única, não reproduzida.
Como re-afirma Santaella em sua obra, a arte e o modo de vê-la, interpretá-la altera-se ao longo do tempo com o surgimento, desenvolvimento, aprimoramento de novas tecnologias, chegando à época da reprodutibilidade técnica da arte. Onde, segundo Benjamin, nesse período, apesar da vantagem da democratização artística, das obras passarem a ser mais conhecidas e acessíveis, ocorre seu contraponto, que é a banalização da arte, a perda de sua aura. É um período dialético onde, apesar dos pontos negativos desse processo, ele torna-se necessário para a manutenção e popularização artística. Pensamento esse afirmado pela própria autora. Levando a idéia para o colóquio popular, diríamos que toda essa nova fase, no contexto do período globalizado que estamos, é “um mal necessário”.
Cinema e fotografia aparecem com certo destaque na obra. Inclusive, a invenção da fotografia é de importante análise no processo evolutivo artístico, pois, a partir dela, de debates, dialética entre fotógrafos e pintores, começou a ter uma nova idéia de que a própria arte em seu significado começou a ser alterado. O significado da arte mudou. O surgimento da fotografia acabou trazendo novos ganchos inclusive para a pintura, onde, uma vez que passou a existir algo que capta perfeitamente a imagem como a vemos, começaram a fazer pinturas mais abstratas, representando muito mais o interior, a incógnita da mente humana, do que formas exteriores. Mal sabia Nièpce [2] o que o resultado de seus experimentos traria ao campo artístico e das comunicações.
Por conclusão, a resposta ao questionamento apresentado no título da obra, envolvendo a convergência entre arte e comunicação pode ser respondida por uma definição: é um processo simbiótico [3]. Por simbiose entende-se a interdependência. Já não diria que é um processo de comensalismo[4], pois, de certa forma, como foi mencionado, acaba ocorrendo paralelamente pontos negativos para a arte, com o uso da comunicação. As artes necessitam da divulgação para sua manutenção, popularização, exercidas pela comunicação, e esta utiliza a arte para a elaboração e evolução de sua influência, seus processos e técnicas. Até aqui seria, sim, uma espécie de comensalismo, porém, como os resultados ultrapassam esses pontos puramente positivos, e a arte acaba sendo banalizada, torna-se um processo mais simbiótico.
Referências Bibliográficas:
SANTAELLA, Lucia. Por que as comunicações e as artes estão convergindo?.3 ed.São Paulo: Paulus, 2008.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica In: revista do Instituto de Investigação Social Zeitschrift für Sozialforschung, [S.l.s.n] 1936
Definição de Estreito de Bering em: http://www.pontosbr.com/detalhes.php?cod=2840 Acesso em 09 set. 2007
Definição Simbiose em: http://www.todabiologia.com/dicionario/simbiose.htm Acesso em: 09 set. 2009
Definição Comensalismo em: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Ecologia/relacoesecologicas2.phpAcesso em: 09 set. 2009
Informações sobre Nièpce em: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JophNice.html Acesso em: 09 set. 2009
[1] O Estreito de Bering é um estreito entre o Cabo Dezhnev, o ponto extremo oriental do continente asiático e o Cabo Prince of Wales, o extremo ocidental do continente americano, com cerca de 85 km de largura e uma profundidade de 30–50 m. O estreito liga o Mar Chukchi (parte do Oceano Ártico), no norte, com o Mar de Bering(parte do Oceano Pacífico), no sul. Tem seu nome do explorador Vitus Jonassen Bering, nascido na Dinamarca e de nacionalidade russa, que atravessou o estreito em 1728.
As Ilhas Diomedes situam-se exatamente no meio do Estreito Bering.
Durante as últimas glaciações, com a recessão da água dos oceanos, a área do estreito transformou-se numa ponte natural entre a Ásia e as Américas, denominada atualmente Ponte Terrestre de Bering, por onde poderiam ter chegado à América os povos que primeiro a colonizaram (ver Arqueologia das Américas).
[2] Nièpce – Joseph Nicéphore Niépce (Chalon-sur-Saône, 7 de março de 1765 — Saint-Loup-de-Varennes, 5 de julho de 1833) foi um inventor francês responsável por uma das primeiras fotografias.
[3] Simbiose – Simbiose é uma relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espéciesdiferentes. Na relação simbiótica, os organismos agem activamente (elemento que distingue “simbiose” de “comensalismo“) em conjunto para proveito mútuo, o que pode acarretar especializações funcionais de cada espécie envolvida. A simbiose também é chamada de protocooperação.
[4] Comensalismo – O comensalismo é um tipo de relação ecológica entre duas espécies que vivem juntas, o termo comensal significa algo como “convidado a mesa”, assim o termo comensalismo foi utilizado para designar relações alimentares em que uma espécie se beneficia dos restos da outra sem prejudicar a mesma. No entanto, atualmente o conceito se estendeu para qualquer relação, alimentar ou não, na qual uma espécie se beneficia sem prejudicar a outra, sendo assim consideradas uma relação harmônica.