O governo Lula possuiu vários fatores influentes que foram responsáveis, inclusive por criar uma contradição, representada pela re-eleição do presidente Lula, após uma grande crise política. Singer faz esta análise central em seu texto, discorrendo a respeito das bases de sustentação do governo Lula.
O texto de André Singer, como o próprio nome sugere, trata a respeito do lulismo, o governo do presidente Lula; suas raízes, características sociais e ideológicas, que possui como centro analítico do texto as bases que sustentam este governo.
Porém, antes de chegarmos a este ponto avançado, para entendê-lo, devemos contextualizar uma seqüência lógica de observação, até chegarmos a este ponto central em questão, construindo, com isso, um raciocínio lógico. A análise do governo Lula e do texto de Singer se dará através de uma introdução sintética com os pontos-chave deste governo e, seqüencialmente, vamos desenvolvendo os elementos citados.
O Governo Lula possuiu seus pontos marcantes como, por exemplo, uma estabilidade econômica (não necessariamente referente à manutenção da mesma política econômica do governo anterior), é considerada uma política econômica híbrida (o Monetarismo e o Desenvolvimentismo, que pode ser conservador, ou popular e democrático). Além da estabilidade econômica, este também foi um período de crescimento econômico e inclusão social, com a ampliação de renda. Porém, teve uma crise política do ponto de vista da questão ética, que ficou sobre os holofotes de uma imprensa partidarizada, sendo esta uma prática oposicionista. Nesta época, destacamos também uma política internacional diferenciada, onde passamos por uma grande crise internacional e ocorre uma intervenção estatal.
Pode-se dizer que o governo Lula se mantém sobre um tripé de orientação econômica constituído por um câmbio flutuante, a manutenção das metas de inflação e um superávit primário. Aqui entramos na questão técnica do crédito consignado.
Agora, desenvolvendo os elementos citados para contextualizar a análise do ponto textual central de Singer, falemos a respeito de uma grande conquista do governo Lula, que foi o aumento real de renda da população, ou seja, o aumento dos salários. Houveram dois elementos de inclusão social. As pessoas da classe “D” sobrem para a classe “C”, ou seja, isso mostra a existência de uma nova classe média no Brasil, um dos elementos que fornece a sustentação ao governo Lula. Esta seria a base social do presidente Lula. Esse surgimento de uma nova classe social, se deve, sobretudo à criação de empregos, que gera uma renda de forma muito mais eficiente que os programas sociais e, com isto, temos o aumento da massa salarial, que cria a inclusão social com esta criação de renda. Lembrando, novamente que esta inclusão social é diferente, mais eficiente que a inclusão social com base nos projetos sociais, como o “Bolsa Família”. Agora existem mais famílias entrando ao mercado de consumo, se alimentando melhor. Pela lógica, esta elevação da demanda elevaria a inflação. Vamos agora analisar outro ponto do governo Lula, decorrente deste aumento de renda, que foi citado anteriormente.
Como vimos, a ampliação de consumo com crescimento econômico propiciou o aumento do emprego, houve pessoas voltando a trabalhar, criar renda e consumir. Nesta fase, o Brasil ousou mudar sua política internacional; a ampliação do Brasil para exportar produtos foi gigantesca. A balança comercial do Brasil é positiva, e isso explica porque equilibramos a economia, criou-se mais empregos.
Conquistamos mais mercados internacionais e, além disso, estamos vendendo produtos com preços melhores e com mais qualidade. Atingimos uma reserva de 300 bilhões de dólares. Com isto, pudemos quitar nossa dívida com o FMI mas, neste ponto, vale lembrar que ainda mantemos uma dívida pública, impagável devido ao crescimento vegetativo da taxa de juros, de 1 trilhão, que representa 50% de nosso PIB.
A política econômica híbrida é responsável para compreendermos o Brasil. Como citei no início deste artigo, existe este hibridismo. Para compreender isto, vamos voltar ao tempo e lembrar que, desde o período colonial, até metade do século XX, o Brasil fazia sumamente a exploração de riquezas naturais, sem o desenvolvimento da indústria. Porém, existiu outro projeto existente no período Getulista, do segundo governo de Getúlio Vargas, no governo de Juscelino Kubitschek, conturbado no período militar, que foi o projeto desenvolvimentista. Este projeto representa a idéia de que o Brasil deve possuir o desenvolvimento mais auto-suficiente produtivo, ou seja, ter parques industriais, tecnologias. E, disto, temos 2 matrizes; a conservadora, e a popular e democrática (esta mais generosa com os trabalhadores).
O monetarismo foi predominante no governo FHC. Hoje, o monetarismo possui a característica neoliberal.
No primeiro governo Lula, este hibridismo ocorre mais visivelmente. O governo Lula não possui a matriz ideológica neoliberal; é mais democracia social, quase que um Estado de bem estar social.
Hoje o popular e democrático ocupam mais espaço, valor agregado maior (mais tecnologia), com mais intervenção estatal na economia, ampliação da inclusão social por ampliação de renda e projetos políticos sociais. A valorização maior da industrialização do que o capital financeiro, ou seja, o desenvolvimentismo.
O governo Lula, em seu aspecto negativo, sofreu uma crise política gigantesca, mas que não se difere das crises éticas dos governos anteriores. Um fato recente que ocorre, aproveitando que estamos falando de ética, é que o PT deixa de ter o falseado e forçado discurso da ética. Falseado, pois, a partir do momento em que se monopoliza a bandeira da ética, formando esta bazófia, ocorre o não controle da corrupção, pois você a nega em seu governo, não a objetiva para que seja solucionado e, com isto, você fica mais exposto e fragilizado, caso ocorra uma crise ética. A própria metodologia científica já adverte a isto. Só faz parte de meu universo real, de meu mundo psíquico aquilo que percebo, objetivo, conheço, identifico; se você não identifica a corrupção em seu governo, para você ela não existe, e você não tem como solucionar algo que não existe; devido a isso, a corrupção não é combatida, e você acaba exposto.
Neste contexto, como fator que eleva esta exposição negativa, temos o fato de que a imprensa passa a ser de oposição, ou seja, é partidarista.
A respeito disto, podemos mencionar, inclusive, o resultado das eleições presidenciais de 2006, que foi emblemático, uma vez que, contrariando a maciça mídia, o Lula foi re-eleito, provando que os meios de comunicação, ao fim, são limitados.
Lula enfrentou uma grande crise política e mesmo assim foi eleito. Parece uma contradição, mas, é aqui que, após fazer todos estes paralelos contextualizadores de análise, retorno ao centro de análise do texto de Singer. Esta análise se dá em torno de que quem sustentou, quem sustenta o Lula foi a emergente classe média e os setores que passaram a ser incluídos no mercado, juntamente com os setores organizados, emergentes que passam de classe C para B, ou seja, a burguesia trabalhadora (veja como é interessante o Brasl, país que, como Darcy Ribeiro já defendia, é um país de antíteses e contrários, onde mais poderíamos encontrar dois termos “antítecos”, contrários, como “burguesia” e “trabalhadora”, onde trabalhador tem o sentido próximo ao proletariado, ou seja, subordinado à burguesia; unidos para formar um novo termo, que é esta citada “burguesia trabalhadora”).
A questão mais geral de representar situações de coexistência de grupos políticos, ideológicos diferentes, antagônicos, conseguindo criar condições para dar saltos e atingir novos patamares. O Lula é desenvolvimentista, o monetarismo existiu pela correlação de forças, mas Lula não é a favor desta corrente.
Vale destacar também o maior protagonismo internacional que o Brasil passou a exercer.
Esta foi uma análise geral do governo Lula, com base no texto de Singer, apresentando todos os fatores centrais essenciais contextualizadores para a apresentação da idéia central do texto de Singer, sobre o suporte, as bases de sustentação, de apoio deste governo que, em alguns aspectos, ainda mais nas questões de correlação de forças, poderia ser assemelhado a uma prática varguista.